Testamento - Charles Lounsbury

sábado, 24 de novembro de 2007

 

"Eu, em plena posse de minhas faculdades mentais, estabeleço e declaro pelo presente testamento minhas últimas vontades, a fim de, pela maneira mais justa possível, distribuir os bens que possuo neste mundo entre os homens que me sucederem...

Em primeiro lugar, deixo aos bons pais e mães, mas em custódia para seus filhos, todas as boas palavrinhas de louvor e todos os apelidos carinhosos, e encarrego os referidos pais de usá-los justa, porém generosamente, à proporção que as necessidades de sua pro le assim o exigirem.

Deixo às crianças exclusivamente, mas só enquanto perdurar sua infância, todos e cada um dos dentes-de-leão e margaridas dos campos, com o direito de brincar livremente no meio deles, segundo o costume infantil, prevenindo-as ao mesmo tempo contra os cardos. E lego para elas as margens amarelas dos riachos e as areias douradas por baixo das suas águas, e os aromas dos salgueiros que caem sobre as referidas águas, e as nuvens brancas que flutuam no alto, acima das árvores gigantescas.

E deixo às crianças os dias intermináveis de alegria, com mil maneiras de contentamento, e a noite e a lua e a cauda da Via-láctea para se maravilharem, mas sujeitos aos direitos abaixo concedidos aos amantes; e dou a cada criança o direito de escolher uma estrela que será sua...

Aos amantes lego seu mundo imaginário, com tudo o que possam vir a precisar, como as estrelas do firmamento, as rosas vermelhas pelos muros, a neve do espinheiro, os suaves acordes da música, ou o que quer que possam desejar que represente para ambos a permanência e a beleza do seu amor.

E para aqueles que não são crianças, nem jovens, nem amantes, eu deixo a lembrança..."

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