Outro Perfil - Maria Julieta D. de Andrade

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

 


Num canto em mim é Primavera, sempre.

Num canto de mim

Verão, Outono, não importa,

entra o belo Inverno e a Primavera continua
em mim, num canto sempre.

Pode o grito ferir-me, o vento, chuvas de fora e de dentro, raios relampeando, e em mim a primavera pulsa e faísca, é diuturna, semi eterna, num canto, em mim.

Nessa agonia que de manhã me estilhaça,

nos mil pedaços em que à tarde me desfaço,

na quase morte em que faleço, abraçada, abrasada,

na floresta onde me perco a todo instante,

no abismo em que me atiro sem recuo, em minha solidão escura, aí me esperas,

Primavera, hera verde espiralando em mim, num canto.

Por que insistes, assim prima, assim prímula,

em primaverar meu desconcerto, minha fadiga,

meu rosto anguloso, em que a nuvem do tempo se junta, hora a hora?

Por que estás em mim, num canto sem pó, pluma ligeira, aurora, invencível luminária?

Sou mulher feita e refeita, fui triste, fui prisioneira, hoje sou frágil, sou livre, coleciono lutas e abandonos na pele cicatrizada.

Essa força, essa fúria, esse fogo, esse impulso

que não decifro e me leva de norte a sul,

entre bandeiras e derrotas devo-te essa torrente,

Primavera, ou pertinaz, inclusa em mim, num canto?

És água de fonte, encanto, fada, brisa marinha, vergel bálsamo na ferida?

Ou és apenas (impresso num canto) outro perfil de mim mesma?

1 comentários:

Fantasia disse...

A fé é a irmã do Amor e ambos são filhos de uma esperança sem fim. Por mais estações ou emoções, tempos e outros momentos, estilhaços e quebras ou pedras e trevas, a Primavera representa o renascer e em cada novo nascimento, o velho padecimento encontra luzidia a esperança em vestes de alegria.
Que haja sempre uma Primavera em ti, minha querida amiga Lúcia e naqueles que amas - os teus (um pouco, também, meus) filhos - Jonathan e Catarina.
Que o nosso querido Pai Celestial continue a proteger-vos. Amen.
Sempre - Paula Fonseca