Do amor humano - Robert A. Johnson

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

 


Amor é distinto do meu ego, ele já estava no mundo antes do meu ego chegar, e quando este se for, o amor continuará a existir aqui. Ainda assim, o amor é alguma coisa ou alguém que habita dentro de cada um. É uma força que actua do interior para o exterior, que permite ao ego enxergar além de si mesmo, e com isso ver os outros seres humanos como algo que deve ser valorizado, estimado e não usado. Quando eu digo que amo, não sou eu quem ama; na realidade, é o Amor que age através de mim. O amor não é algo que eu faço, mas algo que eu sou, ele não é um fazer, é um estado de ser - uma ligação, uma construção de elos com outros mortais. Uma identificação que simplesmente flui de dentro para fora, independentemente de minhas intenções ou do meu esforço.


O amor existe independentemente de nossas opiniões sobre como ele deveria ser. Apesar das mentiras e do egoísmo que tentamos justificar em nome do amor, ainda assim ele mantém imutáveis suas características. Sua existência e sua natureza não dependem da nossa ilusão, das nossas fraudes. O amor não é o que a sociedade nos leva a esperar, não é aquilo que o nosso ego deseja, não é palavreado piegas nem os êxtases exagerados que nos acostumamos a esperar dele. Acontece que o amor é, ele é aquilo que eu sou, e não o que o ego gostaria que ele fosse.


O amor é o poder que dentro de nós aceita e valoriza o outro ser humano tal como ele é, que aceita a pessoa que ali está, verdadeiramente, e não a transforma no ser idealizado pela nossa projecção. O amor é o deus interior que abre nossos olhos cegos para a beleza, o valor e as qualidades da outra pessoa.


O amor altera nosso senso de impotência. Pelo amor vemos que nós e os outros temos o mesmo valor como indivíduos perante o cosmo, torna-se tão importante para nós que um ser se complete, que viva plenamente, que encontre a alegria na vida, quanto nos é importante suprir nossas próprias necessidades.


O amor é algo totalmente distinto dos desejos do ego e de seus jogos de poder. Ele leva a outra direcção, ou seja, em direcção à bondade, ao respeito, às necessidades das pessoas que nos cercam.


Em sua própria essência, o amor é uma apreciação, um reconhecimento do valor do outro.


Ele leva o homem a honrar a mulher, ao invés de usá-la, faz com que ele se pergunte sobre a melhor forma de serví-la. E se a mulher estiver ligada a ele pelos laços do amor, terá essa mesma atitude com relação a ele.


O amor é paciente, é bom; o amor não inveja; o amor não se vangloria e não se invaidece...


O amor não procura seus próprios interesses, não se irrita, não folga com a injustiça...


Suporta todas as coisas, crê em todas as coisas, espera por todas as coisas, resiste a todas as coisas.


As profecias falharão, as línguas se calarão, a ciência desaparecerá. Mas o amor jamais há de falhar.


Quando um casal está verdadeiramente ligado pelos laços da afeição, os dois estão dispostos a abraçar o espectro total da vida humana.


Conseguem transformar até mesmo coisas maçantes, coisas difíceis ou prosaicas, em aspectos alegres e gratificantes da vida.


Necessariamente, dentro do amor humano está a amizade: a amizade no relacionamento, no casamento, a amizade entre marido e mulher. Quando um homem e uma mulher são verdadeiramente amigos eles conhecem os pontos difíceis e as fraquezas do outro, mas não cedem à tentação de criticá-los. Estão mais interessados na ajuda mútua e no prazer que sentem na companhia um do outro, do que em descobrir os defeitos.


Mas podemos, sim, aprender com os orientais a sair de dentro de nós mesmos, de dentro de nossas presunções e nossas crenças, o tempo necessário para nos vermos em uma nova perspectiva. Podemos aprender, sim, como nos aproximar do amor com novas atitudes, sem o pesado fardo dos dogmas de nossa civilização.


Podemos aprender que o relacionamento humano é inseparável da amizade e do compromisso.


Podemos aprender que a essência do amor não é usar o outro para a nossa felicidade, mas sim servir e encorajar aquele a quem amamos e, finalmente, poderemos descobrir - para nossa surpresa - que o que mais necessitamos não é tanto sermos amados, mas sim amar.

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