Ângelus Silésius, poeta místico que viveu no século XVII,
"Nós temos dois olhos.
Com um nós vemos as coisas que se movem
Com um nós vemos as coisas que se movem
no tempo que passa
e são logo esquecidas.
Com o outro, as coisas eternas e divinas,
que permanecem pelo resto da vida."
Nesses versos está resumido o coração da psicanálise. Dois séculos antes de Freud, Ângelus Silésius já conhecia os segredos da alma.
Mas os olhos falam. Todo mundo sabe disso. O poeta místico, se tivesse querido, poderia ter acrescentado que cada olho, por abrir as portas de um mundo diferente, fala uma língua que só ele entende. O primeiro olho não entende a língua do segundo, e o segundo não entende a língua do primeiro... não foi por acaso que ele escolheu a poesia para dizer o que o seu segundo olho via.
O primeiro olho fala a língua do tempo. Ele se abre para o mundo, deseja conhecê-lo e dominá-lo. No mundo do primeiro olho se falam as linguagens da filosofia, das ciências, da tecnologia - linguagens das luzes, das precisões, dos conceitos abstractos, da matemática. À medida em que essa linguagem se expande, expande-se também o domínio do homem sobre o mundo porque conhecimento é poder. Foi com essa linguagem que nossa civilização se fez.
O mundo do segundo olho não entende a linguagem que se fala no mundo do primeiro. Porque o segundo mundo é o mundo da alma, e a alma só entende a linguagem do amor. E a linguagem do amor se faz com poesia, metáforas, imagens, cores, rostos, histórias... A linguagem do segundo mundo não tem o poder de conhecer cientificamente e transformar tecnicamente o mundo. A linguagem do segundo mundo tem o poder para compreender e transformar amorosamente a alma. E é isso que desejam os poetas e os profetas. Eles sabem que mundos melhores nascem da alma.
0 comentários:
Enviar um comentário